Setor em baixa reduz demanda por energia

Data da publicação: 04/06/2020

A retração da atividade industrial tem puxado para baixo o consumo de energia elétrica, no país, durante o período da pandemia da covid-19. Em abril, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda das residências, impulsionada pelas medidas de isolamento social, ultrapassou o patamar do segmento industrial, que sentiu a crise em praticamente todos os setores eletrointensivos. Especialistas destacam que a demanda das indústrias se manteve baixa em maio, mas que os números começarão a dar sinais de recuperação a partir de junho, conforme a economia volte a se abrir. A velocidade da retomada, porém, ainda é incerta.

Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reportou uma queda de 18,8% na produção da indústria nacional em abril, ante março, na série com ajuste sazonal da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF). O resultado não tem precedentes: é o pior da série histórica, iniciada em 2002. Frente a abril de 2019, a retração foi de 27,2%.

Esse recuo do setor industrial se refletiu diretamente no consumo de energia elétrica, que caiu 6,6% em abril, na comparação com igual mês do ano passado, puxado, sobretudo, pelo setor secundário – responsável por um terço da energia consumida no país. Segundo a EPE, a demanda industrial recuou 12,4% ante abril de 2019, e 13,5% frente a março, de forma generalizada entre os segmentos mais eletrointensivos. O destaque foi o setor automotivo, que caiu 47,3% na comparação anual, seguido dos segmentos têxtil (-28,5%), produtos metálicos (-24,9%), borracha e material plástico (-17,5%), produtos minerais não metálicos (-16,3%). O único destaque positivo foi o setor extrativo de minerais metálicos (+1,7%).

O professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, destaca que a demanda por energia, como um todo, atingiu o fundo do poço em abril e manteve-se estável nas primeiras semanas de maio, segundo dados da carga do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “A medida que a economia vai abrindo, o consumo vai subir, mas essa abertura vai ser gradual. Houve perda de renda das famílias e existe muita capacidade ociosa nas indústrias, o que deve retardar investimentos. Acredito que a rampa vai ter uma inclinação muito suave”, comentou.

Para o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, a velocidade da retomada dependerá diretamente do ritmo de flexibilização das medidas de isolamento social. Ele afirma que a partir de junho a expectativa é que haja uma abertura gradual da economia, mas que um recrudescimento das taxas de contágio não é “um cenário de todo impossível”.

“Daqui para frente o que se pode esperar é uma leve retomada no consumo de energia nas indústrias e na economia de uma forma geral, mas qual será o comportamento da curva de recuperação? Isso ainda é incerto”, opinou.

O presidente da comercializadora Tradener, Walfrido Ávila, destaca que a média semanal de consumo de energia, no país, está abaixo do patamar de oito anos atrás. O executivo não acredita que será possível recuperar a perda da demanda este ano e, provavelmente, nem em 2021. “Uma recuperação desse tamanho não é assim, rápida”, afirmou.

Já o diretor-executivo da Safira Energia, Mikio Kawai Junior, disse que a primeira quinzena de abril foi o pior momento para as indústrias, mas que a situação foi “menos ruim” em maio. O executivo destaca que, mesmo com a crise, os casos de inadimplência ficaram abaixo do esperado – de 4% a 5% dos clientes. “É claro que ninguém quer esse tipo de número, mas faz parte do contexto”, afirma Mikio, que aposta na expansão do mercado livre, diante da queda dos preços da energia de curto prazo.

 

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