Além da Transição Energética e da Descarbonização
O Brasil é o país da transição energética. Com 88% da matriz elétrica e 47% da matriz energética proveniente de fontes renováveis (enquanto as médias do planeta são de 27% e 14%, respectivamente), somos um dos países com o maior potencial para desenvolvimento de uma economia de baixo carbono.
De forma simplificada, enquanto a Matriz Elétrica se refere apenas à eletricidade, a Matriz Energética envolve todas as demais formas de energia, como a energia proveniente de combustíveis para movimentar veículos no setor de transportes, cozinhar alimentos e movimentar fornos de indústrias.
Diferentemente do restante do planeta, cujo principal desafio é aumentar a participação de fontes renováveis e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, tanto na matriz elétrica quanto na energética, o Brasil já alcançou níveis altos de renovabilidade, o que nos traz desafios bem mais específicos no setor de energia.
Para manter o alto grau de renovabilidade de nossas matrizes, será necessário um planejamento cuidadoso e altos investimentos em tecnologias com baixa emissão de carbono. Um dos desafios é encontrar formas para acelerar essa transição de forma justa, permitindo o acesso às fontes renováveis para toda a população e setores econômicos, sem impactar de forma significativa o meio ambiente e a sociedade.
Outro desafio que aparece quando analisamos as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) do setor de Energia como um todo, e não apenas no setor de Eletricidade, é a discussão sobre qual deve ser o modelo de desenvolvimento das fontes de energia para o subsetor de Transporte, já que atualmente este subsetor é responsável por 47% das emissões do setor de Energia, enquanto o setor elétrico é responsável por apenas 13%.
Se realmente queremos reduzir de forma relevante as emissões de GEEs do país, não podemos fugir da discussão sobre as fontes de energia que serão utilizadas no setor Transportes, sendo que qualquer que seja a decisão tomada, teremos consequências sobre o setor elétrico.
Se a opção for pela eletrificação da frota, a demanda por eletricidade aumentará. Se for pelo uso de modelos híbridos utilizando etanol como combustível, aumentará a disponibilidade de combustível (bagaço de cana) para gerar eletricidade, mas a pressão sobre recursos naturais também aumentará. Na prática, dois setores econômicos muito importantes para o país, o de Transportes e o Agrícola, interferem diretamente no setor elétrico e precisam ter sua agenda discutida de forma integrada.
Um terceiro desafio está relacionado ao patamar já alcançado na geração de eletricidade por renováveis variáveis. O fato de o Brasil possuir 88% de sua matriz elétrica renovável, sendo 16% provenientes de eólicas e solares, insere desafios relacionados à operação e à segurança do sistema.
A perspectiva de crescimento das fontes renováveis variáveis – a previsão é que elas serão responsáveis por 20% da energia gerada em 2031 – exigirá:
a) políticas públicas e regulamentações adequadas para a remuneração dos chamados serviços ancilares/auxiliares que serão providos por outras fontes;
b) investimentos em pesquisa e desenvolvimento para entender os reflexos sobre a rede e sobre o operador do sistema para se adequar a essa nova realidade de aumentos e reduções de geração de grande quantidade de energia em um curto espaço de tempo; e
c) investimentos em infraestrutura, incluindo a expansão da rede para as regiões produtoras de energia, além de redes elétricas inteligentes e sistemas de armazenamento em larga escala, permitindo que as fontes variáveis de energia sejam integradas à rede elétrica com segurança.
Esses e outros desafios por trás da Transição Energética e da Descarbonização serão debatidos por especialistas nacionais e internacionais no Brazil Energy Frontiers, evento que será realizado no dia 25 de outubro, em Brasília.
Alexandre Uhlig e Claudio Sales são do Instituto Acende Brasil (www.acendebrasil.com.br)
Fonte: https://www.canalenergia.com.br/artigos/53259160/alem-da-transicao-energetica-e-da-descarbonizacao