Obras avançam, com muita cautela
O setor de transmissão espera que os projetos deste ano não sejam impactados pela pandemia do novo coronavirus no Brasil. A concessionárias acenam com a manutenção do investimento, assim como das metas de energização dos ativos contratado recentemente. Mas atentas à evolução deste cenário, estão preocupadas com a duração das barreiras sanitárias. A avaliação é de que, se persistir por muito tempo, a quarentena poderá afetar a obtenção de licenças ambientais, o fornecimento de material e o cronograma de execução das obras de instalação de novas linhas. A disparada do dólar, que já rompeu a barreira dos R$ 5,00, é outra preocupação, porque materiais utilizados na construção de linhas de transmissão, embora fabricados no Brasil, são cotados no mercado na moeda americana.
Fazem parte desta lista cabos condutores aéreos de alumínio, que, dependendo do porte do empreendimento, podem ter um peso significativo no custo do projeto. As concessionárias acreditam que, se o câmbio permanecer no nível atual, os dois leilões de transmissão programados para este ano terão um incremento de custos. Nos certames serão licitados 300 quilômetros (km) de linhas de transmissão, com 2.300 MVA de capacidade de transformação e investimento de R$ 11,1 bilhões, nas regiões do Amazonas, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo. Há previsão de licitar mais 385 km de linha de transmissão e 1.350 MVA em subestações, cujas concessões não foram renovadas pela Amazonas GT. Segundo o Operador Nacional do sistema (ONS), o Brasil conta com 141.756 km de linhas de transmissão, com tensão entre 230 kV e 800 kV.
A meta é aumentar a malha para 181.528 km em 2024. Os contratos de transmissão em vigor estão protegidos por hedge e outras medidas foram adotadas para minimizar o problema do câmbio. A Taesa já adquiriu todos os cabos condutores aéreos para os seus novos empreendimentos, diz Raul Lycurgo, presidente da companhia.” A ISA CTEEP não tem exposição cambial, nem em dívida nem com fornecedores”, afirma Rui Chammas, presidente da empresa, que terminou 2019 com R$ 607 milhões em caixa. Entretanto, as duas empresas, assim como a EDP, relataram problemas de suspensão temporária das atividades de fornecedores contratados para a obras. Detentora de quatro concessões, a Energisa monitora seus fornecedores e, segundo Gabriel Mussi, diretor de transmissão, por enquanto, não registrou atrasos no fornecimento de materiais. Para Cláudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil, o cenário atual não deve alterar o processo de expansão das redes de transmissão.
“A expansão é pautada pela projeção da demanda de muitos anos à frente, sendo pouco sensível às condições conjunturais, especialmente se a crise durar poucos meses, como esperamos.” Segundo ele, as obrigações das empresas de transmissão foram pactuadas em contratos com prazos fixos para entrada de operação. Em março, a Energisa ativou a primeira de suas quatro concessões. Trata-se de um lote de 136 km de linhas em circuito duplo e uma subestação em Goiás, com tensão de 230 kV, cujo início de operação estava previsto para agosto de 2021.
O cronograma dos demais projetos está mantido nos prazos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), diz Mussi, referindo-se a dois projetos no Pará e um entre a Bahia e o Tocantins. No Pará, está em construção uma linha de 296 km, prevista para ser ativada em2022. Já os empreendimentos arrematados nos leilões em 2018 deverão entrar em operação em 2024. Um é o lote em circuito duplo no Pará, de 138,8 km. O outro é de três linhas de transmissão entre Dianópolis, Gurupi e Palmas (TO) e Barreiras (BA), além de duas subestações. A concessionária obteve a licença prévia, mas depende da licença de instalação para iniciar as obras. Com a vigência da quarentena, não é possível estimar quando terá o licenciamento. Os ativos da Taesa em transmissão cresceram desde 2019 com as aquisições da totalidade da São João Transmissora de Energia (SJT) e da São Pedro Transmissoras de Energia (SPF) e de parte da Triângulo Mineiro Transmissora (TMT) e da Vale do São Bartolomeu Transmissora (VSB)- todas da Âmbar Energia.
A empresa também adquiriu a Rialma Transmissora de Energia 1. Desta forma, a empresa conta com 39 concessões, que superam 13 mil km. As linhas da Miracema Transmissora de Energia (TO) e da Empresa Diamantina de Transmissão de Energia – EDTE (BA) entraram em operação no fim de 2019. O empreendimento de Mariana (MG), de 85 km, duas subestações e tensão de 500 kV, será energizado em abril. O prazo de concessão termina em 2047. Outros começarão ao funcionar em 2022. “Estamos trabalhando para antecipar alguns deles”, dizLycurgo. Segundo ele, o lote de quatro trechos de 600 de linha e três subestações da concessão Interligação Elétrica Ivaí (PR) tem 26% do projeto físico concluído. Lycurgo diz que a empresa pode antecipar a entrega de trechos. Com investimento de R$ 1,9 bilhão, receita anual permitida (RAP) de R$ 294 milhões e prazo de concessão até 2047, o projeto servirá de reforço para o Mato Grosso do Sul e região de Guaíra (PR), além de aumentar a confiabilidade do escoamento de ltaipu.
A Taesa é parceira da ISA CTEEP nas concessões Ivaí, Interligação Elétrica Aimorés, com 208 km e duas subestações em Minas Gerais, e interligação Elétrica Paraguaçu, de 338 km entre Minas e Bahia. Ambas têm pouco mais da metade das obras concluídas e aporte de R$ 851 milhões. Com a Alupar, a empresa toca o projeto da Empresa Sudeste de Transmissão de Energia (Este), com 236 km, tensão de 500 KW duas subestações entre Minas e Espírito Santo. Em fase inicial, terá recursos de R$ 486 milhões. As linhas de transmissão da Janaúba Transmissora de Energia Elétrica, entre Montes Claros (MG) e Bom Jesus da Lapa (BA), e da Sant’ Ana Transmissora de Energia, no Rio Grande do Sul, são exclusivas da Taesa.
O projeto da Sant’Ana, cujo contrato foi assinado em março de 2019, precisa de licença de instalação. Com aportes de R$ 610milhões e RAP de R$ 60,9 milhões, tem quatro trechos de linhas que ligam Livramento a Santa Maria, Maçambará e Cerro Chato, com 591km. A ISACTEEP, com 18,6 mil km de linhas e 126 subestações, por onde trafegam 33% de toda a energia elétrica gerada no país, investiu R$ 133 milhões em reforços e melhorias da malha em 2019 e R$ 500 milhões serão aplicados nos próximos anos. Até dezembro, está prevista a energização de quatro a seis projetos greenfield de transmissão, com antecipação do prazo e valor superior a R$ 1 bilhão. “Estamos monitorando a situação para efetuarmos os ajustes que se fizerem necessários em nossas frentes financeira, operacional, tecnológica e de recursos humanos “, diz Chammas.
O cronograma de obras não foi alterado com a pandemia, apesar da dificuldade de manutenção do ritmo das obras relatada por alguns fornecedores contratados. A ISA CTEEP arrematou três lotes de transmissão no leilão de dezembro de 2019 e dois em junho de 2018, que vão adicionar em torno de 5.800 MVA de potência e 450 km de linhas de transmissão. Destes, só o projeto da subsidiária Interligação métrica Itapura, em Lorena (SP), está em construção, com recursos de R$ 238 milhões e início de operação previsto para setembro de 2021. O projeto da Interligação Elétrica Biguaçu, campo por três seccionamentos de linhas de transmissão e uma subestação, destinado a atender à demanda no Vale do Paraíba (SP), está em fase de licenciamento ambiental que a ISA CTEEP espera obter no segundo trimestre. Já os contratos dos três lotes arrematados no leilão do fim de 2019 foram assinados em março. Os projetos de Minuano (RS) e Triângulo Mineiro (MG) têm prazo de construção de 60 meses. O empreendimento Três Lagoas, de 37 km e ampliação de duas subestações em são Paulo e Mato Grosso do Sul, deve ser concluído em 42 meses. A italiana Terna, que atua com as concessionárias Iran emissora Nordeste-Sudeste e Novatrans, abriu e de no Rio de janeiro em 2019, para explorar as oportunidades de negócios na América do Sul. Além do Brasil, a empresa atua no Uruguai e no Peru. O plano estratégico de 2020 a 2024 prevê a aquisição de novos empreendimentos na região. “A Terna busca oportunidades com limitada exposição de capital, baixo perfil de risco e criação de valor”, diz Claudio Marchiori, diretor da empresa no Brasil.
Em 2019, a empresa adquiriu os dois lotes de transmissão que a Construtora Quebec arrematou no leilão de 20 17, ambos em Minas Gerais, com 350 km. O valor do contrato é de cerca de US$ 130 milhões. Os ativos da Terna em transmissão incluem as concessões Santa Marisa Transmissora de Energia (SMTE), no Rio Grande do Sul, e Santa Lucia Transmissora de Energia (SLTE), no Mato Grosso, que foram energizadas em outubro de 2018 e no início de 2019, respectivamente. Segundo Marchiori, elas têm 500 km e receberam aportes de 160 milhões de euros. Com meta de aumentar em cinco vezes o tamanho de sua rede de transmissão, a Neoenergia pretende investir R$ 6 bilhões nos próximos quatro ano, dos quais R$ 2 bilhões em 2020. No exercício passado, a empresa aportou R$ 591,1 milhões em projetos desenvolvidos em São Paulo, Bahia, Goiás e Ceará. Considerando os ativos em operação e o que estão em fase de construção, a malha de transmissão totaliza de 5.332 km e 49 subestações em 13 Estados.
Dos novos projetos, dois tiveram o início de operação antecipado. Um é a subestação de Fernão Dias, em Atibaia (SP), que foi entregue em dezembro de 2019. “O projeto facilita o escoamento das usinas da região Norte para o Sudeste”, afirma Mario Ruiz Tagle, CEO da Neoenergia, citando que o investimento foi 38% inferior aos R$141 milhões estimados inicialmente. Em janeiro, começou a funcionar a subestação Sobral (CE). Nos dois caso, o prazo original era fevereiro de 2021. Já a Engie avalia oportunidades de fusões e aquisições. Foi por isso que a empresa comprou, em 2019, o projeto Novo Estado, que a indiana Sterlite Power havia arrematado no leilão de 2017. O investimento previsto é de R$ 2,8 bilhões. Segundo Eduardo Sattamini, diretor-presidente e de relações com investidores da Engie, a licenças necessárias foram emitidas e as obras devem ter início entre maio e junho deste ano. Com 1,8 mil km, a linha de transmissão atravessará 22 municípios do Pará e do Tocantins.
O projeto contempla a construção de uma nova subestação e expansão de três subestações. Ele diz que, quando entrar em operação, esse ativo trará uma receita de R$ 340 milhões por ano. No projeto Gralha Azul, de construção de 15 linhas de transmissão e dez subestações no Paraná, estão em andamento as fundações e obras civis para a instalação de pórticos e equipamentos na subestação de Ponta Grossa. “Após essa etapa, será feita a instalação dos equipamentos, como também a montagem eletromecânica e o comissionamento para que a subestação seja ligada. A previsão de conclusão é para setembro de 2021”, diz Sattamini. O investimento gira em torno de R$ 2 bilhões.
A EDP tem 1.441 km de linhas de transmissão contratadas, das quais 187 km em operação, e investiu cerca de R$ 2 bilhões em obras e projeto de transmissão. Em 2019, reforçou a sua operação no setor, com a aquisição de empreendimento entre Santa Satarma e o Rio Grande do Sul, com 102 km de Linhas e duas subestações que percorrem 22 municípios. Atualmente, a área de distribuição responde por 34% do Ebitda, enquanto a de transmissão representa 8%. Até 2022, a participação das duas áreas será de 37% e 21%, respectivamente. “Em dois anos, a empresa terá cerca de 60% de seus negócios concentrados no segmento de redes”, diz Carlo Andrade, vice-presidente de estratégia e ele envolvimento de negócios da EDP. A entrega de dois ativos foi antecipada pela empresa. Um deles corresponde a um lote de 113 km de linhas entre Linhares e São Mateus (ES), ativado com 20 meses de antecedência. Neste ano, entrou em operação parcial um lote no Maranhão, de 74 km, programado para 2021. Os demais projetos da concessionária em vários Estados serão energizados até 2022.