Energia deve ser 100% restabelecida até fim do dia após interrupção que afetou 20% da carga
SÃO PAULO (Reuters) -O fornecimento de energia elétrica no Brasil deverá ser totalmente restabelecido até o fim do dia, disseram fontes do setor à Reuters, após uma interrupção de grande magnitude registrada na manhã desta terça-feira que retirou mais de 20% da carga total do sistema elétrico nacional.
Um desequilíbrio na rede elétrica, cujas causas ainda estão sendo investigadas, afetou o suprimento de energia em diversos Estados de todas as regiões do país, com pelo menos 16 mil MW interrompidos — porção relevante dos mais de 70 mil MW de carga registrada no momento da ocorrência.
Até às 12h25, o fornecimento de energia havia sido totalmente restabelecido nas regiões Sul e Sudeste, informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Também já havia sido recomposta 55% da carga no Norte e 81% no Nordeste.
A expectativa é de que o fornecimento seja totalmente restabelecido até o fim do dia, segundo fontes com conhecimento do assunto. O vice-presidente Geraldo Alckmin também declarou que “em poucas horas, se tudo correr bem”, o suprimento estaria todo normalizado.
Segundo o ONS, houve nesta manhã uma “separação elétrica” do Norte e Nordeste — importantes pólos de geração de energia renovável — do Sudeste, Centro-Oeste e Sul, onde estão localizados os principais centros consumidores de energia.
No Sul e Sudeste, o fornecimento foi interrompido devido ao acionamento do chamado “Esquema Regional de Alívio de Carga”, um mecanismo de proteção da rede em momentos de desequilíbrio, que tenta restringir a perda de carga no sistema.
O apagão afetou o serviço de distribuidoras de energia de todo o país, operadas por grandes grupos do setor elétrico, como Equatorial, Enel, Neoenergia, CPFL e Energisa.
“As distribuidoras impactadas em suas respectivas áreas de concessão seguem atuando em regime de contingência, e o fornecimento já foi normalizado na maior parte das localidades afetadas. As reconstituições do sistema têm sido aplicadas de forma segura pelas empresas, sob orientações do ONS”, disse a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), em nota.
A equipe do Ministério de Energia e Energia está trabalhando para que a carga seja plenamente restaurada o mais breve possível, disse a pasta em nota divulgada mais cedo.
O ministro Alexandre Silveira determinou a criação de uma sala de situação e acompanha o processo de retomada, bem como determinou a apuração das causas do incidente.
Embora ainda faltem explicações sobre as causas da ocorrência, o evento é de grande impacto e suscita reflexões de como o Brasil deve agir para garantir a segurança energética diante de uma matriz com cada vez mais fontes renováveis, com geração que pode variar bastante ao longo do dia, destacou Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.
“Essa geração tem grande variabilidade… É comum acontecer situações com centenas de megawatts variando ao longo do dia… É um desafio para a transmissão de energia”, apontou Sales.
O Brasil tem uma extensa rede de linhas de transmissão interligando todo o país, permitindo que a geração de grandes hidrelétricas e de usinas eólicas e solares do Nordeste possam suprir o consumo das demais regiões, que demandam mais energia.
O país deu início no ano passado a uma nova bateria de leilões de novas linhas de transmissão de energia para dar conta do crescimento da fontes renováveis no Nordeste. Ao todo, os certames que serão realizados neste e no próximo ano incluem projetos com 56 bilhões de reais em investimentos estimados.
Segundo Sales, o país acerta em projetar a construção de mais um bipolo em corrente contínua, projeto com características adequadas para o escoamento de grandes blocos de carga por longas distâncias. Ele aponta, no entanto, que a tecnologia prevista no leilão do projeto, chamada de “LCC”, é mais antiga e poderia ser substituída pela “VSC”, mais moderna, que oferece melhor controle de potência e flexibilidade.
(Por Letícia Fucuchima, Roberto Samora e Rodrigo Viga Gaier; edição de Eduardo Simões, Pedro Fonseca e Marta Nogueira)