Armazenamento atrai fabricantes de equipamentos

Data da publicação: 27/10/2021

27/out/2021, Valor Econômico

Investimentos e projetos para melhorar o aproveitamento de fontes renováveis intermitentes, em especial a eólica e a solar, e para reduzir a vulnerabilidade do setor elétrico a crises hídricas como a que o Brasil enfrenta atualmente começam lentamente a colocar o país no mapa mundial dos sistemas de armazenamento de energia. A lista de empresas que apostam nesse caminho é grande e inclui geradoras e distribuidoras como Engie e CPFL, fabricantes de equipamentos como Baterias Moura e WEG e grandes consumidores como a Vale.

Segundo os presidentes da Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade da Energia (Abaque), Carlos Brandão, e do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, o país ainda está “engatinhando” na área, mas ambos veem possibilidade de forte expansão nos próximos anos. Conforme Brandão, o potencial de capacidade somente do lado dos consumidores de todos os portes ultrapassa 95 GWh (gigawatts/hora) até 2024, ante apenas 5 a 8 MWh (megawatts/hora) instalados.

A tecnologia evita interrupções no fornecimento e permite reservar energia para momentos de baixa geração ou picos de consumo, quando as tarifas são mais altas. Em todo o mundo existem hoje quase 200 GWh de capacidade de armazenamento, estima a Abaque. No Brasil, 23 projetos de pesquisa nos segmentos de geração, transmissão e distribuição aprovados em 2017 em chamada estratégica da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) somam 21,6 MWh e preveem investimentos de R$ 406 milhões em até 48 meses.

Três desses projetos são da CPFL Energia, com aportes de R$ 65,5 milhões e instalação de baterias de íon de lítio com capacidade total de mais de 4 MWh, diz o gerente de inovação e transformação da empresa, Rafael Moya. Uma delas opera no parque eólico Campos dos Ventos, no Rio Grande do Norte, e as demais na subestação Barão Geraldo, em Campinas (SP), e em um cliente de alta tensão em Jundiaí (SP).

Segundo o executivo, a tecnologia consolida a integração das fontes solar e eólica na matriz energética e, embora os investimentos não sejam motivados pelo risco de apagão no país, “o avanço no setor é necessário para evitar cenários futuros como este”.

Também inserida no programa da Aneel, a Engie Brasil está investindo R$ 26 milhões até o ano que vem para testar soluções que garantam maior estabilidade no fornecimento de energia intermitente, explica o gerente de gestão de renováveis da empresa, Mário Cusatis. O projeto inclui o uso de baterias de íons de lítio de grande porte (com 1 MWh) na usina eólica Tubarão e no parque solar Cidade Azul, em Santa Catarina, além de equipamentos para testes com grandes consumidores, geração fotovoltaica residencial e recarga de veículos elétricos.

Na indústria de equipamentos, o movimento reflete na WEG Automação, com sede em Jaraguá do Sul (SC). Segundo o diretor superintendente, Manfred Peter Johann, as vendas de sistemas de armazenamento em baterias (BESS, na sigla em inglês) devem mais do que dobrar neste ano ante 2020. A demanda é puxada principalmente pelos Estados Unidos, onde a empresa opera no segmento desde 2019, e depois pelo Brasil, onde a maioria dos projetos ainda é de pesquisa e desenvolvimento.

“O mercado de BESS tem repetido o crescimento exponencial das fontes renováveis, como aconteceu com a geração solar distribuída”, diz o executivo. Os principais clientes são as distribuidoras de energia, os investidores do setor e as empresas que prestam serviços de locação de equipamentos.

A Baterias Moura, que começou a produzir sistemas BESS em 2019 em Belo Jardim (PE), vê “grande perspectiva de crescimento” no segmento a partir de 2022, diz o diretor comercial de baterias industriais, RSM e BESS, Luiz Mello. “Projeções apontam que em três anos o mercado deve ter mais de 1 GWh de capacidade instalada”, comenta. A empresa prevê dobrar as vendas de sistemas neste ano em relação a 2020, duplicar novamente em 2022 e crescer mais de 40% ao ano nos próximos quatro anos.

Na ponta do consumo, a Vale quer colocar em operação em novembro um sistema com 10 MWh de capacidade no Terminal da Ilha Guaíba (RJ), em parceria com a Siemens e a MicroPower Comerc. Segundo o diretor de energia Ricardo Mendes, o equipamento permitirá uma economia de 20% nos gastos do porto com eletricidade.

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