Artigo: Eventos climáticos extremos e o setor de energia

Data da publicação: 20/08/2024

Os efeitos das mudanças climáticas e os impactos de eventos extremos ao redor do mundo têm ganhado espaço nas manchetes nos últimos anos e as previsões feitas pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) afirmam que o cenário tende a se agravar.

Apenas para se ter uma ideia da tendência acima, o número de desastres naturais quintuplicou entre 1970 e 2021. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), nesta janela de 50 anos foram reportados quase 12 mil desastres, com pouco mais de 2 milhões de mortes e US$ 4,3 trilhões em danos.

Com a janela de ação para combater o aquecimento global se fechando cada vez mais rapidamente, é fundamental assegurar o cumprimento das metas globais para a redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e elaborar planos de adaptação para os desafios futuros.

Sabemos que o mundo vive hoje uma transição energética de fontes baseadas em combustíveis fósseis para fontes renováveis. Sabemos também que o setor elétrico global está fortemente associado às questões climáticas, seja pela sua relevância nas emissões de GEE na produção e uso de energia, seja pela sua vulnerabilidade às alterações do clima.

Mas também sabemos – apesar de algumas falhas de comunicação em fóruns globais – que no Brasil a matriz elétrica conta com 90% de participação de fontes renováveis, fontes que respondem por apenas 1% das emissões totais de GEE no país. Ironicamente, esse alto grau de renovabilidade observado na matriz elétrica brasileira aumenta a nossa vulnerabilidade diante dos eventos climáticos extremos, já que os recursos naturais – água para usinas hidrelétricas, vento para parques eólicos e sol para parques fotovoltaicos – passam a ser cada vez mais afetados por tais fenômenos.

Portanto, as políticas e as discussões climáticas serão determinantes para o planejamento energético mundial e nacional, sendo que o setor elétrico nacional enfrentará um desafio relevante nas próximas décadas: manter o setor elétrico como um sistema de baixo carbono e adaptar-se às mudanças climáticas e seus efeitos para garantir que o fornecimento de eletricidade permaneça seguro e confiável.

Com o objetivo de debater e desenhar soluções para o desafio acima vários especialistas se reuniram no dia 14 de agosto de 2024 no evento “Eventos climáticos extremos e o setor elétrico” organizado pelo Instituto Acende Brasil. O material debatido e o vídeo completo do debate estão disponíveis nos seguintes links: ´acendebrasil.com.br/eventos´ e ´acendebrasil.com.br/video´.

O evento foi organizado em dois painéis: soluções de adaptação e soluções de mitigação. Entre as soluções de adaptação debatidas algumas se sobressaíram:

  • Constituir um Fundo de Contingência para que, na ocorrência de eventos climáticos extremos, essa reserva possa ser utilizada para lidar com situações imprevistas ou emergenciais e possibilitar o atendimento à população e a recomposição da infraestrutura atingida;
  • Estabelecer um Plano Nacional de Adaptação com metas e indicadores definidos e mensuráveis para auxiliar no acompanhamento e evolução das ações; e
  • Estruturar um Plano de Ação para reduzir o tempo de resposta e a vulnerabilidade do país aos riscos climáticos.

Já o debate de soluções de mitigação mapeou tanto as grandes oportunidades quanto os principais desafios. Entre as oportunidades destacam-se:

  • O fato de o Brasil possuir uma matriz diversificada e com alto grau de renovabilidade pode posicionar o setor de energia brasileiro como gerador de créditos de carbono em um eventual mercado de carbono internacional; e
  • Iniciativas de precificação de carbono em nível nacional permitiriam maior efetividade na mitigação de emissões, especialmente se forem agregados setores com maior potencial de redução de GEE (transporte, agricultura, uso da terra e indústria);

E entre os desafios de mitigação podemos listar:

  • Diminuir – e eventualmente eliminar – o desmatamento ilegal;
  • Reduzir as emissões do setor de transportes; e
  • Definir políticas e incentivos para estimular o investimento em tecnologias limpas e sustentáveis no setor energético e fortalecer a pesquisa e desenvolvimento nestas tecnologias.

Se as soluções de adaptação e mitigação forem implementadas de forma eficiente e tempestiva, teremos um setor elétrico brasileiro mais robusto e sustentável que poderá ser uma referência global e uma grande fonte de oportunidades de negócio e geração de renda e empregos.

Alexandre Uhlig e Eduardo Müller Monteiro são Diretor de Sustentabilidade e Diretor Executivo do Instituto Acende Brasil (www.acendebrasil.com.br)

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