Bandeira de Lula, Luz Para Todos passa longe das metas de 2024

Data da publicação: 06/04/2025

Uma das principais bandeiras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem buscado ressaltar realizações do governo para reverter a queda em sua popularidade, o programa Luz Para Todos teve um orçamento recorde de R$ 2,5 bilhões no ano passado. Mas a iniciativa, que se propõe a universalizar o acesso à eletricidade, com foco em áreas rurais e remotas, não atingiu as metas estabelecidas pelo governo.

 

Levantamento do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) feito com base em dados do Ministério de Minas e Energia (MME) aponta que foram efetuadas 50.362 ligações elétricas em 2024. O MME informou ao GLOBO um número diferente, 60.179 atendimentos, alegando divergência de metodologia. Em ambos os cenários, o resultado está aquém da promessa do governo federal de levar eletricidade a 75.723 famílias em todo o Brasil.

 

O que explica a diferença é que o MME utiliza como referência a data de homologação da conexão de energia (que envolve procedimentos como inspeção técnica), enquanto o levantamento do Idec baseia-se na data de ligação, ou seja, no momento em que o fornecimento de eletricidade é efetuado para o consumidor e ele pode, por exemplo, acender uma lâmpada ou ligar uma TV na tomada.

 

Os dados levantados pelo Idec indicam que a meta de atendimentos prevista para 2024 em regiões remotas não foi atingida em seis dos nove estados da Amazônia Legal, onde há mais brasileiros sem luz.

 

Acre e Tocantins, por exemplo, não contabilizaram nenhum atendimento. Em outros estados, as ligações ficaram muito abaixo das metas previstas, como Amazonas (6%), Roraima (2%) e Mato Grosso (7%). Já em Rondônia foram realizados 67% do objetivo estipulado. Apenas dois estados com atendimentos previstos — Amapá e Pará —superaram a meta. Nas regiões remotas dois estados, o número de atendimentos excedeu em 470% e 27%, respectivamente, o inicialmente definido. No Maranhão, embora não tenham sido definidas metas, foram 501 atendimentos. Para 2025, o governo ampliou em 23% a metade atendimentos, visando iluminar 97,1 mil imóveis neste ano. A previsão é de investimentos de R$ 4,3 bilhões.

 

Em nota, o MME diz que há precariedade da infraestrutura em algumas regiões, limitação de acesso terrestre e a dependência do transporte fluvial, sujeito à sazonalidade dos rios, que representam obstáculos adicionais à execução do programa. Cita “desafios operacionais e institucionais” em alguns estados, em localidades onde o deslocamento aéreo é a única alternativa viável, o que eleva custos, além de prazos maiores por necessidade de obtenção de autorizações ambientais.

 

22 ANOS SEM UNIVERSALIZAR

 

Criado ainda no primeiro governo de Lula, em 2003, o programa voltou a ganhar força em 2023, relançado pelo presidente em seu terceiro mandato. O Luz Para Todos é operado pelo governo federal, mas bancado com recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que arrecada encargos cobrados nas contas de luz dos consumidores de todo o país. A iniciativa, portanto, não consome recursos do Orçamento Geral da União.

 

O programa dá subvenção econômica às distribuidoras de energia elétrica e funciona da seguinte forma: são estabelecidas metas de atendimento e regiões que devem ser atendidas.

A partir daí, as distribuidoras ficam responsáveis pela execução dos projetos, ou seja, encontrar uma forma de levar luz a essas regiões remotas. As companhias recebem o recurso do governo ao homologarem a conclusão do projeto.

 

Além do MME, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também é responsável pela fiscalização do programa. Algumas empresas encontram alternativas, como a instalação de painéis solares nas áreas remotas. O coordenador do programa de energia do Idec, Lourenço Moretto, defende esforço coletivo entre órgãos para que a execução dos projetos seja fiscalizada corretamente: —É preciso uma integração maior entre os órgãos e cobrar as distribuidoras. Também existem casos de projetos que foram entregues, mas que não atendiam as necessidades da população daquele local.

 

O presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, relembra que o programa foi iniciado há duas décadas, mas enfrenta grandes desafios para levar energia a todos os cantos de um país que tem dimensões continentais, como o Brasil: — Ter essa universalização é um desafio enorme, porque trata-se de levar uma linha com eletricidade para atender alguém que está em uma localidade remota, distante.

 

É um programa extremamente desafiador. O acesso à energia elétrica no Brasil é uma realidade para quase toda a população do país. Em 2023, apenas 0,2% dos domicílios não tinham luz elétrica, segundo dados do IBGE. Ainda assim, 330 mil famílias, cerca de 1,3 milhão de pessoas, ainda viviam sem eletricidade no ano passado, segundo o MME. No Norte, por exemplo, o percentual sem luz é maior que a média nacional. Na região, 4,4% dos moradores vivem na área rural sem rede elétrica geral ou alternativa.

 

MME AJUSTAFISCALIZAÇÃO

 

Segundo Moretto, do Idec, comunidades em áreas isoladas, de difícil acesso, sobretudo no Norte, são a maior parte do público-alvo do Luz Para Todos:

 

—Acreditamos que a maior concentração de pessoas sem energia atualmente está nas áreas remotas. Claro que o programa também atende as áreas rurais, mas via extensão de rede. Com áreas isoladas é muito diferente, a maioria precisa de painel solar comum sistema individual de energia.

 

O MME informou que “tem reforçado o monitoramento da execução dos contratos, aprimorando os mecanismos de fiscalização junto às concessionárias para garantir o cumprimento das metas estabelecidas”. Segundo a pasta, “esse esforço inclui a implementação de novas metodologias de acompanhamento e auditoria, visando conferir maior transparência e eficiência à execução do programa.”

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