Corremos risco de apagão em horários de pico, diz presidente de instituto

Data da publicação: 04/06/2021

04/jun/2021, Portal UOL

A seca que atinge principalmente os reservatórios do Sul e do Sudeste pode causar racionamento ou apagão de energia nos horários de maior demanda, segundo Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.

Em entrevista à CNN Brasil nesta sexta-feira (4), Sales afirmou que a situação não é tão grave quanto a da crise de 2001, quando o Brasil promoveu o racionamento prolongado de energia por falta de capacidade do sistema elétrico. Mesmo assim, pode não haver energia suficiente nos horários de pico ao longo do segundo semestre de 2021.

O nível dos reservatórios no Brasil é o pior da série histórica, iniciada em 1931. Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), as represas das hidrelétricas na região Sudeste e Centro-Oeste estão com 32% da capacidade —elas são responsáveis pela geração de mais da metade da energia brasileira.

Com o fim do período chuvoso na região, a produtividade das hidrelétricas deverá cair ainda mais. Para contornar o problema, o ONS despacha (aciona) usinas térmicas que geram eletricidade a partir de gás natural, óleo, carvão ou diesel.

Até que se comece a reencher os reservatórios, o que só acontece no fim do ano, há a possibilidade que em dados momentos do dia, em que se tenha um pico de demanda, não tenha usinas despacháveis pelo ONS. Aí incorreria na situação de blackout ou apagão.

Conta ainda mais cara nos próximos anos

Claudio Sales afirmou que o uso prolongado de usinas térmicas deve impactar no reajuste das tarifas de energia em 2022 e 2023. A energia produzida das térmicas é mais cara do que a das hidrelétricas.

O reajuste das tarifas é calculado periodicamente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), conforme o contrato com a empresa prestadora do serviço, com base na média do custo da eletricidade.

Além do reajuste da tarifa, a conta de luz já está no patamar mais caro para o consumidor por causa da crise hídrica. A Aneel acionou neste mês a bandeira vermelha 2, devido à seca que impacta na produção de energia.

Dificuldades no planejamento

Claudio Sales afirmou que o planejamento energético é sempre feito com cálculos de risco. Para ele, seria custoso demais formar um sistema que esteja 100% preparado para todos os problemas que podem acontecer (como a seca atual).

Impactos para a economia

A falta de energia em horários de pico poderia forçar empresas a mudar a rotina de trabalho ou reduzir a capacidade de produção. Segundo Sales, eventuais alterações tendem a impactar negativamente a economia.

“Qualquer mudança forçada significa uma certa perda”, afirmou.

Instituto Acende Brasil é um centro de estudos que monitora o setor elétrico brasileiro e trabalha em projetos para a transparência e sustentabilidade.

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