EPE reavaliou leilão de transmissão 02/2024 após eventos no RS

Data da publicação: 14/08/2024

O desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul neste ano provocou várias mudanças, inclusive na reavaliação do lote 2 do leilão de transmissão que acontecerá no final de setembro.

Segundo Elisângela de Almeida, superintendente de Meio Ambiente da EPE, os técnicos da instituição reavaliaram a possibilidade de uma inundação similar atingir as linhas de transmissão e duas subestações que fazem desse lote, focado na Região Metropolitana de Porto Alegre.

De acordo com ela, a Aneel foi alertada e está reconsiderando o projeto original do lote, que inclui quatro trechos de transmissão, sendo o maior deles de 44 km de extensão, e duas subestações que farão a interligação de linhas de 230 kV e 138 kV. O segundo maior trecho tem 19 km e os outros dois são curtos, com 1 km de extensão cada.

Ela destacou que a iniciativa da EPE aconteceu após a divulgação de estudos da UFRGS e considerou alternativas técnicas para os traçados que poderiam ser afetados por um novo evento severo na Região Metropolitana de Porto Alegre. “O planejamento da transmissão é determinativo e essa adaptação prática é pontual”, ressaltou Elisângela.

A informação foi dada nesta manhã, durante o seminário sobre eventos climáticos severos, organizado pelo Instituto Acende Brasil em Belo Horizonte.

No mesmo encontro, Denis Mollica, superintendente de Engenharia da Distribuição da Cemig, apontou desdobramentos dos eventos severos nas concessionárias do setor. Segundo ele, as distribuidoras devem investir em sistemas próprios de previsão climática, incluindo sensores e radares.

Essas ações têm como exemplo o que as distribuidoras estadunidenses têm feito para enfrentar situações extremas. Ele destacou a recente missão técnica aos Estados Unidos, coordenada pela Abradee, a associação do segmento, para conhecer a realidade das concessionárias de lá.

Mollica adianta que a Cemig seria a única a ter um radar próprio entre as empresas do setor e a estrutura de previsão climática pode ser usada para gerar alertas na área de cobertura da concessionária. O monitoramento da distribuidora mineira aponta que o número de raios no estado aumentou 2,5 vezes entre 2022 e 2023. Já o número de eventos de maior severidade teria sido ampliado em 50% no mesmo período.

A outra frente de ação para adaptação e mitigação dos desastres naturais envolve investimentos. A Cemig, segundo o superintendente, tem um plano de R$ 23 bilhões a serem aplicados somente na distribuição até 2028, dos quais mais de R$ 4 bilhões devem ser aportados neste ano.

Entre as iniciativas, Mollica ressaltou a adoção do sistema avançado de gestão de distribuição (ADMS) e do sistema de gestão de recursos distribuídos (DERMS). “Vamos ter o primeiro DERMS da América Latina”, destacou.

Os prejuízos dos eventos climáticos severos foram igualmente quantificados por Alexandre Uhlig, diretor de Sustentabilidade do Instituto Acende Brasil. De acordo com ele, o número de desastres naturais quintuplicou nos últimos 50 anos, gerando mais de 2 milhões de mortes em nível global e perdas de US$ 5,3 trilhões.

Na prática, esses eventos têm causado problemas em todas as frentes do setor elétrico, incluindo blecautes nas redes de distribuição.

No caso da transmissão, as medidas indicadas incluem, entre outras, o ajuste do padrão de cargas de vento em projetos futuros e a redefinição de linhas de transmissão em áreas abertas e ao longo de estradas.

O especialista lembra ainda que há a estruturação de um plano nacional, envolvendo 25 ministérios, com foco em 16 subáreas que podem ser afetadas por desastres naturais, sendo uma delas a de energia. Uhlig defende ainda a criação de um fundo de contingência para atender os gastos com situações imprevistas no setor elétrico.

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