Leilão de transmissão deve ter forte competição, mas custos podem reduzir deságios
16/dez/2021, Reuters News
O leilão de linhas de transmissão de energia marcado para sexta-feira deve repetir o histórico de forte competição entre grupos investidores de diferentes perfis, mas pode registrar deságios menores que os observados no passado, em meio à pressão de custos com equipamentos e na cadeia de construção, na avaliação de empresas e especialistas no setor elétrico.
O certame oferecerá ao mercado cinco lotes de transmissão, distribuídos em cinco Estados: Amapá, Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Os empreendimentos somam 902 quilômetros de linhas, além de três subestações de energia com 750 megavolt-ampères (MVA) em capacidade de transformação. Ao todo, estão previstos R$ 2,9 bi em investimentos. Entre as companhias que já declararam intenção de participar da disputa, estão ISA Cteep, Taesa, Alupar, Engie Brasil e Copel.
O leilão também pode ser uma oportunidade para elétricas que vêm buscando ampliar sua exposição ao segmento de transmissão, como EDP Brasil e Energisa. A transmissora Alupar diz ver uma mudança significativa no cenário para o segmento, com turbulências na cadeia de fornecedores –principalmente construtoras — e aumento dos custos das matérias-primas. “Imaginamos que os leilões vão ser ‘bidados’ com mais cuidado, mais cautela em relação aos que foram. Nas nossas contas e projeções, os leilões dos últimos três anos têm um retorno bastante ruim, negativo até”, disse José Luiz de Godoy, diretor financeiro da Alupar, em reunião com investidores realizada nesta quarta-feira.
Os deságios médios nos leilões de transmissão têm ficado acima de 45% desde 2018, chegando ao máximo de 60,30% em 2019, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em relatório a clientes, o Credit Suisse avalia que o nível de eficiência das empresas em relação ao investimento (Capex) estimado pela Aneel para os projetos tende ser limitado pela inflação da construção, pelos preços das commodities, por barreiras logísticas e pelo câmbio.
“Apesar das taxas de juros mais altas esperadas para o próximo ano, vemos algum espaço para economia nos investimentos, ainda que os custos de construção tenham aumentado. Consequentemente, acreditamos que o mercado tenderia a se preocupar com retornos apertados e ofertas agressivas de possíveis concorrentes”, escrevem os analistas do banco Carolina Carneiro e Rafael Nagano.
No caso das transmissoras, a decisão de disputar os lotes no leilão divide atenções com outras oportunidades de crescimento, como aquisições no mercado secundário e projetos de reforços e melhorias em linhas já existentes, afirma Franceli Jodas, sócia-líder de Power & Utilities da KPMG no Brasil.
Os reforços e melhorias se referem a autorizações concedidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para aprimoramento de linhas e subestações já construídas, aumentando a receita anual permitida (RAP) dos projetos. “As empresas estão fazendo as contas, se é melhor entrar num projeto novo com taxa (de retorno) mais baixa, ou (fazer) investimento nas próprias linhas, hoje temos essa necessidade de reinvestimento. Não acredito que veremos um deságio muito forte”, avalia Franceli.
Para Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, o cenário atual aponta para “um pouco de conservadorismo” nas ofertas. “Mas acredito que a atratividade vai prevalecer”, disse, ressaltando o constante aperfeiçoamento de regras por parte da Aneel. Outro fator que tende a influenciar o apetite dos investidores na sexta-feira é a perspectiva de leilões de maior porte a partir de 2022. O certame de transmissão previsto para junho do ano que vem deverá ser o segundo maior desde 2018. Segundo as informações colocadas em consulta pública, serão oferecidos 13 lotes, envolvendo investimentos de R$ 9,5 bi.