Mudanças climáticas vão trazer perdas ao setor elétrico, diz estudo
06/Mar/2021, Valor Econômico Online – Mudanças climáticas nas próximas três décadas podem causar perdas econômicas relevantes ao setor elétrico brasileiro e impactar negativamente as operações de geração, transmissão e distribuição de eletricidade. A conclusão é de um estudo inédito do Instituto Acende Brasil que analisa os cenários para o setor até o ano de 2050.
Algumas das principais ameaças da intensificação do aquecimento global nos próximos anos são alterações no regime hidrológico, que podem afetar a capacidade de geração hidrelétrica, além da ocorrência de eventos extremos que danifiquem redes de transmissão e distribuição.
Segundo o estudo, incorporar as mudanças do clima à lógica do setor pode ajudar a otimizar investimentos e a planejar de forma melhor a operação e expansão futura do mercado. Para o instituto, é necessário que o mercado de energia comece a aplicar mais recursos de pesquisa para o desenvolvimento de modelos de monitoramento climático. A lógica é que antecipar a ocorrência de eventos extremos ajuda a planejar planos de resposta de equipes de manutenção e dar mais eficiência a eventuais reparos.
Além disso, o estudo também defende que o mercado de energia busque soluções tecnológicas que aumentem a resiliência das operações, como a adoção de redes inteligentes. “Esse é um tema que deveria ter prioridade de alocação de recursos nas verbas de pesquisa e desenvolvimento que são cobradas do consumidor de energia”, defende o presidente do instituto, Cláudio Sales.
O fomento de pesquisas sobre os cenários climáticos extremos foi incluído como uma das medidas do Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), elaborado pela Empresa de Pesquisa Estratégica (EPE). Salles afirma, no entanto, que é preciso intensificar os esforços. “Com a sofisticação dos modelos e da capacidade computacional, já existem recursos e técnicas que podem, em alguma medida, incorporar na operação os modelos que levam em conta os impactos dos efeitos climáticos”, afirma.
O estudo lembra que 65% da energia produzida no Brasil vem de hidrelétricas, o que torna o sistema muito suscetível às condições hidrológicas. Outro alerta é uma eventual necessidade de ajuste na garantia física de usinas já existentes devido às alterações do clima, além da perda de receitas e qualidade nos serviços de transmissão e distribuição.
O presidente do Acende Brasil lembra que o Brasil já vive nos últimos oito anos um período de seca que afeta a geração de energia hidrelétrica. “Esses anos que estamos vivendo são os piores da série histórica, com recordes de secas. Há mil razões pra isso, mas uma delas, sem dúvida, é a questão da mudança climática”, diz Sales. Ele acredita que é necessário monitorar desde já os dados de chuvas e vazões de rios para identificar possíveis alterações estruturais em seus padrões e planejar o futuro do setor.