Tamanho dos lotes do leilão atrairá competidores de peso, diz Acende Brasil

Data da publicação: 29/06/2023

Aumento do custo real de capital também reflete atual conjuntura, na avaliação de Cláudio Sales

Apesar da imprevisibilidade de todo certame, a disputa do primeiro leilão de transmissão de 2023, previsto para amanhã (30/6), tem características próprias. Os lotes são de grandes dimensões – três deles com linhas de transmissão que superam os 1 mil km – na avaliação de Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. “Mesmo os menores, que são os lotes 8 e 9, não são exatamente pequenos”, completa.

De acordo com ele, isso cria um filtro natural e deve trazer para a disputa principalmente as transmissoras tradicionais do setor e empresas que tenham uma engenharia financeira bem resolvida. Um dos fatores que leva a isso é a restrição de fornecedores, incluindo o trio de epecistas, fabricantes de insumos, como torres, e de equipamentos, caso dos transformadores.

Sales chama atenção ainda para a mudança no custo de capital próprio e de terceiros desse primeiro leilão em relação ao anterior, realizado em 16 de dezembro do ano passado. Os dois fatores, definidos pela Aneel, são alguns dos parâmetros que compõem a Receita Anual Permitida (RAP).

Os custos de capital de terceiros foram aumentados de 5,69% ao ano (a.a), do certame passado, para 5,91% a.a. Já os custos de capital próprio subiram de 10,60% a.a para 10,85% a.a. Percentualmente parecem pequenos, mas representam investimentos previstos de R$ 15,7 bilhões durante os 30 anos de concessão. “O aumento reflete as condições atuais de financiamento, com as taxas de juros mais altas. É importante lembrar que o custo de capital de terceiros envolve operação e manutenção, que são revistos a cada cinco anos”, explica Sales.

Com a confirmação de que o BNDES poderá financiar até 80% dos itens financiáveis, os competidores do leilão poderão operar com uma estruturação que inclui o custo financeiro da Taxa de Longo Prazo (TLP), acrescido da remuneração básica do banco (1,5% a.a), e da taxa de risco de crédito, que varia conforme o projeto e a avaliação de risco do tomador de crédito.

A contratação indireta – via agente financeiro – é mais complexa. Nessa composição, entram a TLP e a taxa de 1,45% a.a, do BNDES, e mais a taxa do agente financeiro, que vai depender de negociação. Nos dois casos, o prazo de financiamento não poderá exceder os 24 anos, o que já inclui carência e amortização.

Com um volume de 6.184 mil km de linhas de transmissão instaladas, o primeiro leilão envolve ainda 400 megavolt-amperes (400 MVA) de capacidade de transformação, divididos em nove lotes. Os projetos devem ser entregues entre 2028 e 2029 e poderão gerar 29,3 mil empregos, na avaliação da Aneel.

ISA Cteep

Confirma a análise de Claudio Sales sobre o perfil dos participantes do leilão o presidente da transmissora ISA Cteep, Rui Chammas, em recente conversa com a reportagem do Energia Hoje.

Com lotes para linhas a serem construídas na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe, para Chammas o leilão de transmissão é uma disputa para “gente experiente”.

“É um dos leilões mais desafiadores que já vimos. Não é desafiador para realizar as obras, elas serão realizadas. Eu costumo dizer que não é difícil ganhar leilão. Difícil é ganhar dinheiro depois que você ganhou um leilão. É muito comum ter empresas que vencem com deságios super fortes e depois não conseguem entregar do jeito que gostariam”, disse o executivo. (Com reportagem de Celso Chagas)

N.R: notícia alterada às 14h20 para inclusão de depoimento do presidente da ISA Cteep.

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