Tamanho dos lotes do leilão atrairá competidores de peso, diz Acende Brasil
Aumento do custo real de capital também reflete atual conjuntura, na avaliação de Cláudio Sales
Apesar da imprevisibilidade de todo certame, a disputa do primeiro leilão de transmissão de 2023, previsto para amanhã (30/6), tem características próprias. Os lotes são de grandes dimensões – três deles com linhas de transmissão que superam os 1 mil km – na avaliação de Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. “Mesmo os menores, que são os lotes 8 e 9, não são exatamente pequenos”, completa.
De acordo com ele, isso cria um filtro natural e deve trazer para a disputa principalmente as transmissoras tradicionais do setor e empresas que tenham uma engenharia financeira bem resolvida. Um dos fatores que leva a isso é a restrição de fornecedores, incluindo o trio de epecistas, fabricantes de insumos, como torres, e de equipamentos, caso dos transformadores.
Sales chama atenção ainda para a mudança no custo de capital próprio e de terceiros desse primeiro leilão em relação ao anterior, realizado em 16 de dezembro do ano passado. Os dois fatores, definidos pela Aneel, são alguns dos parâmetros que compõem a Receita Anual Permitida (RAP).
Os custos de capital de terceiros foram aumentados de 5,69% ao ano (a.a), do certame passado, para 5,91% a.a. Já os custos de capital próprio subiram de 10,60% a.a para 10,85% a.a. Percentualmente parecem pequenos, mas representam investimentos previstos de R$ 15,7 bilhões durante os 30 anos de concessão. “O aumento reflete as condições atuais de financiamento, com as taxas de juros mais altas. É importante lembrar que o custo de capital de terceiros envolve operação e manutenção, que são revistos a cada cinco anos”, explica Sales.
Com a confirmação de que o BNDES poderá financiar até 80% dos itens financiáveis, os competidores do leilão poderão operar com uma estruturação que inclui o custo financeiro da Taxa de Longo Prazo (TLP), acrescido da remuneração básica do banco (1,5% a.a), e da taxa de risco de crédito, que varia conforme o projeto e a avaliação de risco do tomador de crédito.
A contratação indireta – via agente financeiro – é mais complexa. Nessa composição, entram a TLP e a taxa de 1,45% a.a, do BNDES, e mais a taxa do agente financeiro, que vai depender de negociação. Nos dois casos, o prazo de financiamento não poderá exceder os 24 anos, o que já inclui carência e amortização.
Com um volume de 6.184 mil km de linhas de transmissão instaladas, o primeiro leilão envolve ainda 400 megavolt-amperes (400 MVA) de capacidade de transformação, divididos em nove lotes. Os projetos devem ser entregues entre 2028 e 2029 e poderão gerar 29,3 mil empregos, na avaliação da Aneel.
ISA Cteep
Confirma a análise de Claudio Sales sobre o perfil dos participantes do leilão o presidente da transmissora ISA Cteep, Rui Chammas, em recente conversa com a reportagem do Energia Hoje.
Com lotes para linhas a serem construídas na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe, para Chammas o leilão de transmissão é uma disputa para “gente experiente”.
“É um dos leilões mais desafiadores que já vimos. Não é desafiador para realizar as obras, elas serão realizadas. Eu costumo dizer que não é difícil ganhar leilão. Difícil é ganhar dinheiro depois que você ganhou um leilão. É muito comum ter empresas que vencem com deságios super fortes e depois não conseguem entregar do jeito que gostariam”, disse o executivo. (Com reportagem de Celso Chagas)
N.R: notícia alterada às 14h20 para inclusão de depoimento do presidente da ISA Cteep.